sexta-feira, janeiro 20, 2006

Portugal Segundo Saramago*



“Não tenho a certeza de que Portugal exista dentro de 50 anos. Vivemos um lento processo de decadência, com alguns focos de entusiasmo, como a República ou a Revolução dos Cravos. Isso revela uma incapacidade para manter alta a nossa tensão de viver. A nossa mentalidade é de uma tristeza apagada e civil, que pode não ser suficiente para nos mantermos. Pode ser que existam os portugueses, enquanto comunidade de gente que fala esta língua, mas o Estado português pode desaparecer. Não há muito tempo, desapareceu um país que se chamava Jugoslávia. Nós continuaremos aqui, claro, mas as mudanças geoestratégicas e económicas podem conduzir-nos a um grau de subalternidade inédito. Ainda que isto não venha a suceder amanhã, tem que ver o papel pujante de Espanha como Estado, um país vivo e em progressão. É lógico que Portugal seja atraído por ela e se integre - com um altíssimo grau de autogoverno, entenda-se – num novo Estado ibérico. Especulo, porque pessoalmente não estou a favor nem contra, mas digo-vos que até poderia ocorrer que, como Estado federado ao lado de Espanha, o país adquirisse uma importância que agora não tem.”


* Excerto da entrevista ao jornal "La Vanguardia".

Nestes dias de incerteza quanto ao futuro, à beira da eleição de um novo Presidente da República, quando verificamos que as opções para o futuro são soluções do passado, as palavras de José Saramago levam-nos a pensar se Portugal poderá alguma vez sair da mediocridade onde mergulhou. Alguém (ou)viu este tema ser debatido na campanha?

Pareceu-me a mim que andaram todos fora da realidade, num limbo de formalidades, numa volta a Portugal do colesterol (menos Cavaco... que não come), a discutir se a idade conta, sondagem para aqui sondagem para ali, com discursos vagos e previsíveis. Tão pouco para tanto dinheiro gasto.

Mas que país é este?

1 comentário:

pinhacolada disse...

Tens o sapo Saramago atravessado na garganta, minha linda. Não está em causa a pessoa, mas sim o que ele disse sobre Portugal; uma reflexão profunda sobre este lugar e o seu papel no mundo.