quinta-feira, março 02, 2006

Esther - Clandestina

Sentada numa sala de um centro para imigrantes clandestinos em Bayti, perto de Casablanca, Esther diz que foi a sua mãe, doente e divorcida, quem tomou a decisão de a enviar para a Europa. Pagou 200 euros a Kofi e Rosette, um casal que ia emigrar com os seus três filhos e que tomaram conta de si.

Desde Brazavile, Rep.Dom.Congo, chegaram a Bamako, no Mali. Ali conseguiram documentação falsa e seguiram de autocarro até à Argélia. Chegados, a polícia descobriu-os e retirou-lhes os papeis. Passaram fome, sede e sofreram com o frio insuportável do deserto. Esther conseguiu trabalho na apanha do tomate num local perto de Argel. Foi dando para juntar algum. Mas, quando se preparavam para rumar a Marrocos, foram assaltados e roubaram-lhes todo o dinheiro que tinham. Mais tarde, seguiram para Marrocos, andaram noite seguidas para tentar entrar naquele país, dado que a fronteira se encontra oficialmente fechada. Chegaram à cidade marroquina de Oujda, onde conseguiram obter nova documentação.



Dali, em vez de seguir para norte até Melilla com os outros, foi parar sózinha a Casablanca onde deambulou pelas ruas desconhecidas, até ser acolhida por Jean-Luc Blanc, um pastor evangélico, que a levou para o centro onde se encontra a contar a sua história. Agora frequenta um colégio onde ensinam francês e árabe. Já fala ambas as línguas.

As autoridades marroquinas, para limparem a má imagem na sua relação com os imigrantes clandestinos, organizaram uma visita de jornalistas a este centro. Havia no grupo um jornalista congolês. E a notícia passou no Congo.

Esther esboça um sorriso. Acabara de receber uma chamada da sua mãe, que tenta arranjar dinheiro para a levar de volta a Brazaville. Há três anos que não se vêem. Há três anos que não se falavam. Esther tem agora doze anos de idade e muitos mais de sofrimento.

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