sábado, fevereiro 18, 2006

Levar um Boi a Tribunal ?!


Um fim de tarde no Hospital Nª Srª do Rosário, no Barreiro, num corredor está um homem deitado numa maca. Acabou de recuperar os sentidos e olha à sua volta.

“Batas brancas? Parecem enfermeiras. Isto aqui é uma maca!…isto é o hospital, pá! Que merda é esta?”
“Então o senhor não sabe?” Diz uma das enfermeiras que, vendo que o homem despertara, se aproximara dele.
“O senhor foi colhido por um boi numa largada!”
“Ai fui…?” Diz o homem, ainda mal refeito do seu estado de apagamento que durara umas horas.
“Então, não se lembra que foi à largada da Moita?”
“Pois fui, pois fui…”.
“Olhe, teve você muita sorte, porque podia ter morrido desta! Vá lá tenha calma, que o médico já o vai ver. Vai correr tudo bem”.

O senhor A. (vou omitir o nome, porque o mundo é pequeno e nunca se sabe), tal como faz há vários anos no mês de Setembro, não perde uma largada matinal nas festas da Moita. A sua rotina era sempre a mesma naqueles dias; apanhar o comboio no Barreiro, sair na Moita, andar a pé até ao recinto das festas, ver a largada e, por volta das 11h.30m, comer um courato e mamar uma cervejola fresquinha. Depois, apanhar o comboio de regresso por volta das 12h.15m a tempo de almoçar em casa.

Naquele domingo interrompeu-se a sua rotina, para seu grande azar.
O homem olha para um lado, olha para o outro, volta a olhar e não há sinal de boi nas proximidades. Desce da paliçada, atravessa a avenida que serve de recinto onde largam os bois e vai descansadinho da vida, já a salivar o belo courato que iria trincar.
De repente, zás! Vem o boi disparado a grande velocidade por trás de si, espeta-lhe uma marrada nas costas, levanta-o no ar e cai esparramado no chão. Diz quem viu. Por sorte, há uns tipos que estão do lado de fora que puxam o corpo inanimado do senhor A., porque o cabrão do animal já lá vinha de novo para mais uma dose de porrada.

Foram dois dias internado cheio de dores por todo o corpo, três costelas partidas, hematomas e por aí fora, e sem poder ler o jornal a “A Bola”!
Jurou para nunca mais. Até à próxima, diz quem o conhece bem.

Passam duas ou três semanas e recebe em casa uma carta do hospital para pagar 80 euros. O homem atira-se ao ar, vem para a rua reclamar com aqueles chulos, bandidos, ladrões que já tinha pago 12 euros e agora queriam mais, que não pagava nem mais um cêntimo e mandou a mulher ir lá ver o que era aquilo.
Afinal, tudo se resolveu, houve uma confusão e não tinha mais nada a pagar.

No entanto, o assunto não terminava ali. A funcionária da secretaria informa a esposa do senhor A. que tinha ali uns papeis para lhe entregar e que se destinavam a fazer queixa do agressor ao tribunal.
“Desculpe, não estou a perceber”. Diz-lhe a esposa.
“Então, o seu marido não foi agredido? Agora leva aqui esta papelada para apresentar queixa do agressor no tribunal”.
“No tribunal?!”
“Sim, minha senhora, o seu marido não foi agredido?”
“Foi…mas o agressor era um boi!”
“Um boi?! Deve haver uma confusão no processo!” Comentou a funcionária.
“Então, agora o meu marido vai levar um boi a tribunal ?! Mas que grande parvoíce é esta?!”.

O senhor contou esta história ali na rua e foi o pagode geral. Começaram a meter-se com ele “olha o forcado!”; “olha o toureiro!”; “então, quando é que é o julgamento do boi?”; “precisas de testemunhas?” e coisas do género.

Presentemente o senhor está recuperado e aguardam-se as próximas largadas…na Moita.

1 comentário:

Unknown disse...

Também vos digo, o homem que apresente queixa, que no dia do julgamento não hão-de faltar bois à audiencia!!!