sexta-feira, novembro 17, 2006

Duas Curtas da Guerra Colonial

Por vezes as pessoas recordam, em conversas, episódios da guerra colonial. Eu ouço algumas histórias, e é notório que aquilo ainda mexe muito com eles. Conseguem fazer relatos extremamente minuciosos, como se tivessem ocorrido há uns meros meses. É impressionante. Eram jovens, não conheciam nada para além das suas santas terrinhas e foram enviados para África combater. Era matar para não morrer. Tudo o que mexesse, literalmente. Adultos, mulheres, crianças, velhos, animais, etc, não se faziam distinções. Não havia tempo. Não se questionava. Eram homens de acção.
Edificaram-se amizades, juras, camaradagem, sonhos, amores distantes, sexo pago com nativas, onanismos, copos… vida e morte…céu e inferno. Não tiveram escolha.
Foi há mais de trinta anos e as memórias continuam presentes.
Não foi assim há tanto tempo.

Aqui vão duas que ouvi contar:


1

As casas dos sargentos e dos oficiais encontravam-se dentro do aquartelamento. Guiné.
Ali viviam com as suas famílias, constituídas na sua maioria apenas pelas respectivas mulheres. Havia poucas crianças.
Certa noite, a esposa de um sargento que estava ausente há vários dias, interpelou o cabo que trabalhava na messe.
-A que horas fechas a messe?
-Às duas da manhã. Respondeu.
- Olha, passa lá por casa, preciso que me faças um favor.
O cabo assim fez. Após fechar e largar o serviço, bateu à porta da senhora. Esta apareceu-lhe em trajes menores e mandou-o entrar. Parece que aqueles calores africanos e a ausência do marido punham a mulher fora de si. Ela queria que alguém apagasse aquele fogo que a consumia. Passara o dia a preparar no encontro com aquele soldado jeitoso. Mas este, desconfiado e com medo de eventuais represálias, para mais tratando-se da esposa de um superior, recuou, pediu imensa desculpa e foi-se embora, prometendo que não contaria a ninguém. Com grande pena sua, resistiu à tentação.

No dia seguinte, tinha sido entregue no comando uma participação contra si por tentativa de violação.
Resultado: 7 meses de prisão no forte de Elvas.



2

História parecida com a anterior. Moçambique.
A mulher de um certo oficial pediu a um soldado para passar lá por casa para lhe fazer um favor, carregar umas coisas e tal…
Ao ver o que ela queria, o soldado foi-se embora, com medo de vir a ter problemas. Não se podia arriscar daquela maneira e, quando pudesse, saciaria os seus desejos numa negra, como era costume.
No dia seguinte dá entrada uma participação contra si. O comandante chama-o para ser ouvido. Jura que é mentira e aposta em como a senhora vai retirar a queixa ainda naquele dia.
Dirige-se a casa da dita senhora, bate à porta e esta vem atender. Ele tem uma granada na mão e diz à tipa:
-Ou você retira ainda hoje a participação, ou puxo da cavilha e pode ter a certeza que não vou preso…posso ir p´ró caixão, mas você também vai!
Resultado: A esposa do oficial retirou a participação e não se falou mais nisso.

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