quarta-feira, abril 19, 2006

Patrícia Melo

Apresento aqui uma escritora brasileira que descobri por acaso em 2001, na Livraria Notícias, ali no Rossi. No escaparte estava o título: INFERNO. Chamou-me logo a atenção. Prémio Jibuti e tal...
Tenho este hábito de escolher livros sem conhecer ou ter ouvido falar do autor. Vou pelo título, pelo nome, pela nacionalidade ou pela sinopse. Se houver algo que me palpite compro e não penso mais nisso. Claro que já tenho levado banhadas...mas aí é que está a piada! Já vim a pensar que finalmente tenho um livro do escritor X e...olha, por exº o Gore Vidal, comprei-o num alfarrabista em 1996 só porque o nome me soava bem e porque alguém o havia citado. O livro chama-se "Duluth" e não consegui passar da pág.40.
Já com o Robert James Waller sucedeu o inverso. Comprei o "Música da Fronteira" pelo título e pela fotografia da capa - que mostra um deserto onde se cruza uma estrada e uma linha de comboio (desertos, estradas e linhas de comboio são coisas que me fascinam), e de facto é excelente. Tão bom que a seguir comprei outro "Apuros em Puerto Vallarta". Estes livros fazem-nos querer lá estar no meio das personagens ou ser uma delas. São muito cinematográficos. Não entendo por que não fazem filmes destes dois e só fizeram das "Pontes de Madison County".

Dizia eu que descobri a Patrícia Melo naquelas compras à sorte e acertei na mosca! A tipa escreve bem que se farta!
De uma forma bem ritmada que parece música...e imagino música ao ler o "Inferno". Porque se trata de uma história cruzada por outras histórias, do crescimento de um miúdo no meio do caos - também a música nasce do caos para lhe construir um sentido -, e é tão cómico como perturbante. É humano (no sentido dos bons sentimentos) e é infernal como a dura realidade do morro que retrata. É o bem e o mal num só. Além de sons, evoca cheiros, lugares, ritmos das gentes, amores, traições, morte, festa e tanto mais.
E começa assim:
"Sol, piolhos, trambiques, gente boa, trapos, moscas, televisão, agiotas, sol, plástico, tempestades, diversos tipos de trastes funk, sol, lixo e escroques infestam o local. O garoto que sobe o morro é José Luís Reis, o Reizinho. Excluindo Reizinho, ninguém ali é José, Luís, Pedro, António, Joaquim, Maria, Sebastiana. São Giseles, Alexis, Karinas, Washingtons, Christians, Vans, Daianas, Klebers e Eltons, nomes retiardos de novelas, programas de televisão, do jet set internacional, das revistas de cabeleireiras e de produtos importados que invadem a favela."


Além do "Inferno", fui logo comprar estes:



No mundo da violência urbana, Máiquel é um jovem frustrado que se torna num criminoso por motivos banais: perdeu um jogo de futebol e...

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Aqua Toffana era um misterioso veneno renascentista...o livro termina assim:
"Que coincidência.Eu estava diante de uma delegacia de polícia. Achei que era uma boa oportunidade. Entrei, mandei chamar o delegado. Veio um sujeito gordo, porco, suado. Nunca vi um delegado elegante. "O que foi?", perguntou pingando.
"Vim me apresentar espontaneamente. Eu sou o estrangulador da Lapa."
Ele ficou me olhando assustado.
Facas, punhais, revólveres, estricnina. Facas. Facas.Facas. Que coisa desagradável: eu continuava com aquele cheiro a bunda na boca."

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Para mim, o melhor destes 3. Conta a história de Reizinho, que aos 11 anos começa a trabalhar para o traficante líder do morro. É de cortar a respiração. Tanto é divertido, como nos dá um soco no estômago que nos deixa sem palavras.
O miúdo é esperto, observador e apreende com mestria todos os truques e segredos do líder...um dia será ele a mandar no morro, aquele que terá as mais belas garotas e a pessoa mais importante e respeitada.


1 comentário:

blimunda disse...

Empresta também! ;)