Um dos discos da minha vida:
Vinte anos é muito tempo? Nem por isso. Muito menos quando as canções se entranharam de tal forma numa pessoa, que um gajo dá por si, recorrentemente, a trauteá-las. Pelos anos fora. Nunca nos abandonam. Jamais. E sem ouvir o disco. Há vinte anos. Bem, isto é, eu comprei-o na altura em vinil, ano 1987, discoteca da Universal, há vinte anos, mas a porra do gira-discos avariou pouco depois, talvez em 1988, então gravei-o em cassete, pois claro. Não podia passar sem as músicas. Não tinha massa para comprar outro aparelho e os discos foram ficando…, nunca os vendi, alguns desapareceram, outros foram emprestadados. Eu temia que este “Wharehouse: songs & stories” tivesse levado sumiço. Até tremia quando fui ver a prateleira…
Agora, anos depois, comprei por vinte euros(!) uma aparelhagem com gira-discos, é Philips e tudo, não é alta gama mas toca bem e para candonga feira da ladra street está porreiro. Mas o disco esta cá em casa, arrumadinho, em bom estado, dentro de saco protector e tudo o mais. Um mimo. São vinte canções e todas boas. Não há altos nem baixos, é tudo boa colheita. Foi um recuar nos anos, nas vivências, uma dança de memórias e sensações. Arrebatamento. A sua actualidade mantém-se intacta. È deveras curioso, incompreensível até, que os Husker Du nunca tenham tido o devido reconhecimento. Este trio (baixo, guitarra e bateria) começou por tocar um punk-noise-hardcore barulhento, nos inícios de 80. Eram de Minnieapolis, a terra do famoso Prince, e com o tempo, e de disco para disco, foram apurando uma síntese entre o ruído e a melodia que atingiria aqui o seu ponto mais elevado. Influenciaram todo uma geração de músicos que, bebendo na sua fonte, atingiriam muito maior projecção do que os mestres. Exemplos não faltam e são bem mais conhecidos: Pixies, Nirvana, Dinosaur Jr., Lemonheads, e por aí fora. Ou seja, aquela fornada de artistas que se projectaram em finais de 80 e com o êxito dos Nirvana, já no virar da década. Por ironia, este duplo-Lp foi o último da banda. Movidos pela força criativa de dois autores: Grant Hart(bateria e voz) e Bob Mould (guitarra e voz), e acompanhados pelo baixista Greg Norton. O primeiro mais raivoso e o segundo mais pop. Nos seus discos transparecia uma certa rivalidade, uma competição entre os dois no sentido de chegar à canção perfeita. Claro que isso não existe, mas o prosseguimento deste objectivo pode fazer pequenas maravilhas. Isso já se notava no anterior “Candy apple grey”, que começa à la Motorhead e vai até à folk de paisagens desoladas a perder de vista. No último trabalho da banda, a temática das letras centra-se nos medos, angústias, alegrias; nas dificuldades de adaptação do indivíduo na passagem da adolescência para a idade adulta. A inadaptação. Não eram isso os Nirvana e o movimento grunge? E aquela raiva gritada desde as entranhas e a autodestruição (até do próprio movimento) como saída para o problema, não era isso? Não andarão os chamados hypes do rock sempre à volta disto? Eu acho que sim.
Igualmente estranho, é nunca ter conhecido ninguém que gramasse tanto estes tipos como eu. Realmente estranho...
Os versos “poor bird flies up in the air, never getting anywhere…” resumem o sentido da coisa e ainda me fazem sentir nas alturas. Vinte anos depois.
Grande disco!
quarta-feira, junho 06, 2007
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