sexta-feira, março 02, 2007

Uma Tarde Em Setúbal

Era ainda um puto recém chegado ao Barreiro. Um conhecido do meu pai apareceu lá em casa com bilhetes para o jogo do fim-de-semana. O Benfica ia a Setúbal jogar contra o vitória. Eu pulei de alegria - também podia ir com os adultos, uau!

No domingo, ao início da tarde, lá fomos nós na carrinha toyota. Houve bifanas, minis e copos de tinto na Volta da Pedra. Para mim sumol laranja e uma bifana.
No estádio, coube-nos ir para o peão, que era em pé e tipo sardinha em lata. Mas lá consegui furar e cheguei-me à rede. Já não tinha mais ninguém à minha frente. Estava maravilhado com as cores das camisolas, das bandeiras, com o imenso verde do relvado e as suas marcações, os cânticos dos adeptos; era tudo aquilo que imaginara quando fazia campeonatos de futebol com caricas, que pacientemente apanhava nos cafés para pintar onze de cada cor e jogar num estádio feito com cartões de caixas de sapatos. Aliás, era ainda mais belo do que imaginara.


Não era brincadeira aquela equipa do Benfica, julgo que eram mais ou menos estes: Chalana, Stromberg, Maniche, Veloso, Paneira, Carlos Manuel, Álvaro, Valdo e...Bento. O Benfica ganhou com muito esforço por 2 a 3. A certa altura, o Vitória lança uma bola para junto da lateral, para as costas do defesa esquerdo benfiquista, que era o Álvaro. Lá vinha o ponta direita pronto para se dirigir para a baliza, mas o Bento sai destemido e chega primeiro à bola. A malta gritava:
- Atira para fora! Cede lançamento!
Mas o Bento, tinha outra ideia. Parou com o pé em cima da bola, o adversário à sua frente, pronto para lha tirar, a malta aflita a gritar e ele espera a aproximação do outro, simula uma, duas vezes, o outro avança decidido, o Bento põe o pé por baixo da bola e faz-lhe um chapéu, o Álvaro recebe e lança lá para a frente. Foi o delírio e ele acenar para nós agradecendo. Aqueles momentos fazem ainda hoje parte do meu imaginário.

Foi o melhor guarda-redes que eu vi defender, até hoje.

Até me vieram as lágrimas aos olhos quando soube da sua morte. Morreu um homem que me ajudou a sonhar e a ser feliz.

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